11 de março de 2008

Santa Sé fala sobre as novas formas de pecado social

L'Osservatore Romano, com Redação
Em entrevista ao jornal L'Osservatore Romano, Mons.Gianfranco Girotti, bispo responsável pela Penitenciária Apostólica da Santa Sé, falou sobre a importância deste Dicastério, pouco conhecido, porém essencial para vida da Igreja.

"Manipulações genéticas; degradação ambiental; desigualdades sociais; injustiça social: eis novas formas de pecado que fazem parte do atual contexto social causado pela globalização", destacou Mons.Gianfranco Girotti na entrevista.

"É um desafio novo também para a Penitenciaria Apostólica que se esforça, ao mesmo tempo, para reafirmar o seu papel em um momento no qual o pecado é banalizado", afirmou o monsenhor.

Confira a íntegra da entrevista:

Nicola Gori - A Penitenciaria Apostólica parece ser um objeto misterioso para a opinião publica, mas também para boa parte dos fiéis?

Mons. Gianfranco Girotti - Mesmo sendo atualmente o mais antigo organismo da Cúria Romana – depois que a Dataria foi suprimida, em 1967 e a Chancelaria, em 1973 – , é pouco conhecido, até mesmo, por grande parte do clero. O motivo pode ser por sua atividade não ser tão visível como a de outros Dicastérios. A Penitenciaria Apostólica, entre os Dicastérios da Cúria Romana, desenvolve, de maneira sempre direta, uma atividade propriamente espiritual e harmônica, com a missão fundamental da Igreja, que consiste na salus animarum. É o órgão universal e exclusivo do pontífice em matéria de Fórum Interno. Que cuida de pecados, censuras, irregularidades, de maneira geral, e situações particulares como, por exemplo, dispensas, liberações e convalidação de atos nulos. Examina e resolve o indício dos casos de consciência que lhes são propostos (aborto, sacrilégios, indulgências plenárias). Resolve dúvidas em matéria moral, jurídica ou quando se trata de circunstâncias particulares.

Nicola Gori - Há sentido, para um órgão como a Penitenciaria, num momento em que existem tantos problemas com o ecumenismo?

Gianfranco Girotti - É difícil colher as razões e os motivos deste suposto mal estar que a Penitenciaria criaria sobre o ecumenismo. Se queremos fazer referências aos erros historiográficos, temos que reconhecer que desde a época do Renascimento não aconteceu uma correta discussão ecumênica. Isto podemos comprovar com a recente e rica documentação de sérios religiosos que fizeram emergir, honestamente, em função deste Dicastério, conhecido como a verdadeira “fonte de graça”, privado de qualquer interesse.

Nicola Gori - A atenção ao pecado parte de uma sensibilidade às exigências da sociedade moderna ou se move sobre a base da referência de um tempo passado?

Gianfranco Girotti - A referência é sempre à relação da aliança com Deus e com os irmãos e os reflexos sociais do pecado. Se, no passado, o pecado tinha uma dimensão demasiadamente individualista, hoje possui uma valência, uma ressonância, além do individualismo, mas sobretudo social por causa do grande fenômeno da globalização. De fato, a atenção ao pecado se apresenta mais urgente hoje do que no passado. Por causa dos seus reflexos quem são mais amplos e mais destrutivos.

Nicola Gori - A Penitenciaria ainda tem alguma utilidade no contexto atual?

Gianfranco Girotti - Sem dúvida. Em uma época, caracterizada pela imagem e pela publicidade, aonde tudo se torna público, um Dicastério, como a Penitenciaria Apostólica, atento ao mundo interior, no seu modo mais delicado e menos visível, no atual cenário da Igreja é, de fato, um instrumento muito precioso.

Nicola Gori - Quais são as questões que atraem em maior parte de sua atenção?

Gianfranco Girotti - São os delitos que, diante de sua gravidade, tem absolvição reservada à Santa Sé: absolvição do próprio cúmplice em pecado contra o 6º mandamento (Cânone 1378); a profanação sacrílega do Santíssimo Sacramento na Eucaristia (Cânone 1387), a violação direta do sigilo sacramental (Cânone 1388, 1); a dispensa da irregularidade ad recipiendos Ordines contraído pelo aborto provocado (Cânone 1041, 4); a dispensa da irregularidade ad exercendos Ordines (Cânone 1044, 1).

Nicola Gori - Como o Dicastério interpreta a surpresa que a opinião pública enfrenta diante de tantas situações de escândalo e de pecado na Igreja?

Gianfranco Girotti - Não se pode substimar a objetiva gravidade de uma série de fenômenos que, recentemente, foram denunciados e que trazem consigo as faces da fragilidade humana e institucional da Igreja; sobre isso não se pode não constatar como a Igreja preocupada com grave dano produzido. Ela reagiu e continua reagindo com rigorosas intervenções e iniciativas para zelar por sua própria imagem, para o bem do povo de Deus. Devemos, entretanto, denunciar a enfatização dada pela opinião pública, através dos meios de comunicação, que leva a Igreja a ter descrédito.

Nicola Gori - Às vezes a indulgência da Igreja e o perdão cristão não são compreendidos pelas pessoas. Segundo vossa Excelência, porque isso acontece?

Gianfranco Girotti - Onde parece que a penitência é acolhida com abertura de si mesma ao outro na solução dos problemas que se impõe uma atenção em tal âmbito social no qual, se exprime a própria existência, oferecendo a própria contribuição de esclarecimento e de sustento à quem está em dificuldade. A penitência, portanto, hoje vem acolhida com predominantemente, na dimensão social, no momento em que as relações sociais se enfraqueceram e ao mesmo tempo se complicaram por causa da globalização.

Nicola Gori - Quais são os novos pecados, segundo Vossa Excelência, e quais são as áreas nas quais, hoje, colhemos comportamentos pecaminosos no que diz respeito aos direitos individuais e sociais?

Gianfranco Girotti - Antes de tudo, na área da bioética, aonde não podemos deixar de denunciar algumas violações nos direitos fundamentais da natureza humana através de experimentos, manipulações genéticas.

A área das drogas também é social. Ela enfraquece a psique e se obscura a inteligência deixando muitos jovens fora do circuito eclesial. Outro exemplo se encontra na realidade econômica aonde os mais pobres se tornam sempre mais pobres e os ricos, sempre mais ricos, alimentando uma insustentável injustiça social. Exemplifico, ainda, a área da ecologia que possui, hoje, um relevante interesse.

Nicola Gori - Uma freqüente procura das indulgências não incentiva uma mentalidade mágica diante da culpa e da pena?

Gianfranco Girotti - Para não cair numa perigosa e falsa prisão penso, antes de tudo, que seja absolutamente necessário conhecer e compreender a reta doutrina da prática das indulgências, entendida pela Igreja, como expressão significativa da misericórdia de Deus. As indulgências vêm ao encontro de seus filhos para ajudá-los a pagar as penas de seus pecados, mas, sobretudo, para impulsionar a um maior fervor na caridade.

A Igreja é movida, em primeiro lugar, pelo desejo de educar. Mais do que pela repetição de fórmulas ou práticas, com espírito de oração, penitência e exercício das virtudes teologais: fé, esperança e caridade.

A reforma do Servo de Deus Paulo VI, feita com a Constituição Apostólica Indulgentiarum doctrina, em 1º de janeiro de 1967, eliminou qualquer coisa que induzisse os fiéis a uma mentalidade mágica. Tal doutrina expõe claramente os pressupostos teológicos das indulgências, da comunhão dos santos e do tesouro da Igreja, consistente nas extensões e nos métodos de Cristo, da Bem Aventurada Virgem Maria e dos Santos que são colocados à disposição dos fiéis. As indulgências, de fato, não podem ser adquiridas sem uma sincera conversão e união com Deus, a quem está o pleno rompimento das obras prescritas.

Nicola Gori - Não parece que as condições para ter indulgências sejam leves?

Gianfranco Girotti - Se juntamente às condições impostas - confissão sacramental, não mais do que há 15 dias antes ou depois da indulgência, comunhão eucarística e oração segundo as orações do pontífice – pensemos que para adquirir a indulgência também é pedido um grau de pureza e sinais de ardente caridade, coisas difíceis à nossa fragilidade, então diria que aquilo que está estabelecido não é de se minimizar.

Nicola Gori - Existem pecados que vocês não podem absolver?

A Penitenciaria é a longamanos do Papa no exercício da potestas clavium. Portanto, para realizar as funções que possuem possui todas as faculdades necessárias, com exceção ao que o próprio Pontífice tenha declarado ao Cardeal Penitenciário, para absolver.

Nicola Gori - Sobre o aborto. Existe a sensação difundida de que a Igreja não tem em consideração a difícil situação das mães?

Gianfranco Girotti - Me parece que não é levado em conta comportamento da Igreja que se manifesta constantemente por um desejo de salvaguardar e tutelar pela dignidade e direitos da mulher. São, de fato, muitas as iniciativas católicas e movimentos eclesiais com empenho corajoso e comovente para promover e, até mesmo, contrastar, as atuais tendências sociais e culturais contra a mulher, ajudando, de maneira eficaz, às mães solteiras a trabalharem e a educarem seus filhos e facilitando a adoção.

http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=253890

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